quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Amar como os pássaros...


Da janela do meu quarto eu vejo um ninho de passarinho.
O casalsinho está ali alimentando seus filhotes. Acabou de cair uma chuva torrencial e eles estão ali, firmes. Escuto daqui o 'piar' dos filhotinhos com fome.
Esta árvore onde está o ninho bate pertinho aqui do meu quarto, é filha de uma semente de uma árvore lá da casa de meus avós... ela dá umas flores vermelhas esquisitas - mas bonitas - e toda vez que abro a janela e as vejo é como pedir a bênção de minha avó... ela gostava de flores!

E é desta cena que tiro a minha mensagem de fim de ano a todos: Que possamos permanecer unidos, em família, no amor, na amizade, na confiança... como esta família de pássaros! Com coragem para enfrentar tudo, tendo sempre o amor como elo essencial!

Abençoado 2010 a todos vocês que passarem por aqui!
Beijos no coração de cada um!

domingo, 27 de dezembro de 2009

Natal é todos os dias...



Naquele 24 de dezembro de 1982 eu acordei mais cedo do que de costume. Aliás, tudo estava meio diferente aquela manhã: os pássaros lá fora cantavam em harmonia com as cigarras, as flores no jardim, ainda orvalhadas, recebiam os primeiros raios de sol fazendo transparecer um brilho todo especial, recebendo já cedinho a visita de muitas borboletas e abelhas. “Até a natureza sentia que vinha coisa boa por aí”, pensei eu com um sorriso típico da criança de 8 anos que era eu. Corri da janela de meu quarto para a cozinha num risco e fui direto para a janela que dava para a estrebaria onde meus avós tiravam leite das vacas. Eles já estavam lá no ofício diário deles! Quis vê-los pois a presença deles em minha vida embalava-me no colo de Deus e assim eu sentia-me segura e amada. Mais uma vez sorri!

Sim, eu estava na casa dos meus avós! Aquela casa que a gente encontra nas histórias do senhor Monteiro Lobato, sabem? Onde Pedrinho e Narizinho passavam as férias no mundo encantado da vó Benta e que brincar era muito mais que um faz-de-conta, era um aprendizado para a vida toda... Assim era a casa de meus avós também e junto com meu primo Tuca, que morava ali pertinho, vivíamos as nossas aventuras cheias de sabedoria e encantamento. E por falar nele, mal eu cheguei na cozinha ele entrou pela porta a dentro sem cerimônia alguma, meio assustado e com os olhos pequenos ainda pois também havia acordado aquela hora e se pôs na janela comigo a olhar para a vó Maria e o vô Emílio ao longe.

“O vô e a vó parecem são José e Nossa Senhora no presépio que montamos lá na sala, né?”, comentei com o Tuca contemplando aquele cenário bíblico, inundada já pelo espírito natalino. “Vamos lá para tomar a espuma do leite fresquinha e pedir a bênção e dar um abraço neles?”
E assim, saltando rapidinho da janela, saímos em disparada para a estrebaria. Chegando lá corremos ao encontro do vô e da vó e nos sentamos no lugar de costume, onde ficávamos quando ajudávamos a fazer os tratos para as vacas. Era um lugarzinho como que uma prateleira grande, de chão batido embaixo de um paiol enorme. Ali ficávamos todas as manhãs e fins de tarde enquanto esperávamos eles tirarem o leite. Mas aquele era um dia especial, era véspera de Natal e até aquela rotina diária se tornara diferente. De repente, olhando tudo ao nosso redor percebemos que aquela estrebaria virara uma gruta, igualzinha a que fizemos no presépio. Então, meu primo e eu tivemos uma idéia: “Vamos fazer uma caminha para o menino Jesus aqui? Só falta ele agora!” Bem ligeiro pegamos capins secos e verdes que haviam por ali e graciosamente fizemos um aconchegante lugar para dormir. Nossos avós observavam tudo, tão entusiasmados quanto nós, felizes por nossa presença ali junto deles.

Andando de um lado para outro começamos a procurar algo que pudesse representar o menino Jesus. E procura daqui, procura dali e nada! Passou um tempinho e nos cansamos daquele sobe e desce da estrebaria para o paiol e resolvemos descansar na caminha do menino Jesus. Aí, vovô e vovó, nos contemplando curiosos e fascinados, aproximaram-se de nós e disseram: “Pronto! Agora o presépio está feito! Vocês dois aqui são o menino Jesus que faltava”. “ Nós dois?”, perguntei eu prontamente, “por que?”. “Por que em nossas vidas vocês fazem o Natal acontecer todos os dias e é no aconchego do abraço de vocês, no sorriso espontâneo e na conversa amorosa que nós sentimos a revelação desse mistério”. Eu e o Tuca nos olhamos surpresos imaginando o menino Jesus dentro de cada um de nós, felizes com aquela idéia. E assim, abraçando nossos avós, descobrimos que o melhor lugar para preparar e acolher o menino Jesus é dentro do nosso coração.

E sabem do que mais, aquela estrebaria nos ensinou, durante toda a nossa infância, a entendermos o santo mistério que envolve o nascimento de Jesus, o Filho de Deus. E não só o deixamos nascer dentro de nós como também o acolhemos para crescer conosco, brincando juntos. E Ele aceitou!


Um abraço a todos que passarem por aqui!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Vagalumes no meu jardim...


Ontem estava lendo. Já era noite e fazia muito calor. Abri a porta e recebi aquele frescor agradável das noites de verão aqui do Sul. De repente olhei lá fora e percebi que algumas luzinhas começaram a passear em meio a escuridão do nosso jardim. Eram vagalumes...

Adoro vagalumes pois eles me trazem lindas lembranças e bons fluídos. São luzes espontâneas e verdadeiras... nada artificiais! Não precisam ofuscar e nem roubar energia de nada e de nenhum outro ser para brilharem...e brilham aos poucos, sabem ser Luz! Deus colocou nesses bichinhos uma sabedoria incrível: eles sabem ser luz em meio a escuridão! Vão se acendendo aos poucos porque sabem que brilho demais cega os olhos de quem vê.

Amei aquelas luzinhas, fazia tempo que não as via mais. - Ainda existem vagalumes, que maravilha! - pensei aqui dentro, sorrindo dentro de mim, lembrando das vezes em que eu corria atrás deles quando era criança na casa de meus avós.

Minha leitura no livro agora se perdera, passei a ler aquele momento, aqueles dois vagalumes que brincavam em meu jardim. Adorei a visita deles!

Um abraço de luz a todos que também me visitarem aqui! ;)

Obs.: E Deus não é assim também? Não se mostra aos poucos? =)Ele vai acendendo as luzes em nossa vida na medida em que vamos caminhando.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

É hoje que Sinto aquilo que Fui...


Esta frase de Fernando Pessoa me fez descobrir o valor que minha infância tem sobre mim. É no hoje que eu vejo refletido o amor que recebi de meus avós, pais, tios, professores... É hoje que eu contemplo a minha infância com os olhos de quem lê histórias encantadas e sente que tudo é possível e que o pó de pirlimpimpim é feito de amor!

Partilho com vocês um conto que escrevi falando um pouco desse meu tempo. Agora o texto está aqui na íntegra =)

Portas do Céu

Eu gosto de todas as estações, principalmente da primavera. Lá, na estação da minha infância, quando a primavera desabrochava, eu lembro que na floresta onde ficava a casa dos meus avós, eu adorava andar entre as árvores para ver as portas do céu
que se abriam bem de manhãzinha quando o sol ia nascendo.
Eu via seus raios se espreguiçando por entre aquelas enormes Imbúias e imaginava que Deus havia aberto as portas do céu... E na minha imaginação eu entrava e passava meus dias de férias lá, com Ele. Eu subia em árvores, comia frutas do pé, apreciava as flores do campo, brincava com os girinos deitada a beira do rio e com os terneirinhos correndo nos campos.

Meus avós me davam a mão e o colo e meu primo Tuca era meu anjo companheiro naquele pedacinho de céu a brincar comigo. E nossas brincadeiras eram como aquelas aventuras do Pedrinho, que o senhor Monteiro Lobato contava no Sítio do Pica-Pau Amarelo. Claro, não tínhamos o pó de pirlimpimpim mas tínhamos o sótão da casa de meus avós, que era um verdadeiro passaporte para um mundo de aventuras. Lá, embalados pelas estórias de assombração da infância de minha mãe, que também viveu ali, e juntando mais as nossas, coragem era o que não nos faltava para estarmos ali.

Certa vez resolvemos desafiar nosso medo e passar uma noite lá no sótão, onde havia três quartos cheio de coisas antigas e fotos e mais fotos penduradas em quadros nas paredes. Aquelas pessoas nas fotos eram todas parentes, mas nunca sabia quem era quem pois já haviam falecido.

Bom, a noite chegou e com ela a escuridão. Escuridão que parece ser maior no interior pois não há ruas próximas e nem postes para iluminar o quarto lá de fora, só há os vagalumes e o luar mesmo. Mas aquela noite nem isso tinha. Para acalmar o medo começamos a brincar de achar músicas em palavras, isso ajudou por um tempo. Minha irmã mais velha, Ana, estava conosco e também entrou na brincadeira. Foi legal! Mas, de certa hora em diante aquilo perdeu a graça e ela começou uma outra brincadeira que para mim e meu primo não teve a menor graça.

Como a Ana sempre foi metida a corajosa, ela começou a nos assustar inventando estórias sobre aquelas pessoas que estavam nos quadros. Eu e o Tuca ficamos de olhos arregalados em direção as paredes do quarto e mesmo em meio a escuridão juro que víamos os olhos daquelas pessoas nos olhando. Mal respirávamos de tanto medo e a nossa imaginação ia dando asas a mil fantasmas. De repente começamos a ouvir um barulho. Eram passos leves que vinham em direção do quarto em que estávamos. Nosso coração essa hora batia na boca, até minha irmã ouviu e ficou em silêncio. O negócio é sério, pensei, porque quando minha irmã ficava quieta ela também estava com medo. Meu primo essa hora já chorava e dizia que não queria morrer quando de repente dois olhos luminosos saltam em direção a janela ao lado de minha cama. Nossa! Foi o maior grito que já dei em minha vida. Não é que um gato infeliz estava escondido lá em cima? Minha irmã caiu na risada, meu primo no choro e eu com o coração na mão voei para debaixo das cobertas. E se não bastasse o susto, aparece minha vó dando o maior xingão em nós três. E o gato? Sumiu naquela escuridão, o bonito! Quando olhamos pela janela só enxergamos seus olhos reluzentes na noite adentro olhando para trás, rindo de nós, com certeza!

Mas as estórias não são só de assombração. São de amor, carinho, risadas, choro, amizade, brigas, trabalho e estudo também, sempre em meio as portas abertas do céu.
Desde então, cada vez que eu vejo os raios do sol por entre árvores, nuvens e flores, lembro das portas abertas do céu
que eu entrava na estação de minha infância e brincava com Deus na casa dos meus avós maternos, Emílio e Maria.

Hoje, na estação da vida cotidiana, continuo vendo as portas do céu se abrindo através do amor que meus pais sentem por mim; do sorriso das crianças e de suas palavras tão espontâneas e verdadeiras; da presença dos amigos que "brincam de viver" comigo; do meu trabalho que me ajuda a ser um pouco melhor a cada dia e que me ajuda a partilhar a vida; da natureza (pois eu não sei o que seria de mim sem o mar, as flores, os pássaros, as estrelas...); das palavras - que eu tanto valorizo; do silêncio do meu ser que por amor se alegra e se entristece, sorri e chora.
E em meio a tudo isso vejo que Deus cresceu comigo, mas seu amor e paciência continuam iguais.


Bjs a todos que passarem por aqui!