domingo, 27 de dezembro de 2009

Natal é todos os dias...



Naquele 24 de dezembro de 1982 eu acordei mais cedo do que de costume. Aliás, tudo estava meio diferente aquela manhã: os pássaros lá fora cantavam em harmonia com as cigarras, as flores no jardim, ainda orvalhadas, recebiam os primeiros raios de sol fazendo transparecer um brilho todo especial, recebendo já cedinho a visita de muitas borboletas e abelhas. “Até a natureza sentia que vinha coisa boa por aí”, pensei eu com um sorriso típico da criança de 8 anos que era eu. Corri da janela de meu quarto para a cozinha num risco e fui direto para a janela que dava para a estrebaria onde meus avós tiravam leite das vacas. Eles já estavam lá no ofício diário deles! Quis vê-los pois a presença deles em minha vida embalava-me no colo de Deus e assim eu sentia-me segura e amada. Mais uma vez sorri!

Sim, eu estava na casa dos meus avós! Aquela casa que a gente encontra nas histórias do senhor Monteiro Lobato, sabem? Onde Pedrinho e Narizinho passavam as férias no mundo encantado da vó Benta e que brincar era muito mais que um faz-de-conta, era um aprendizado para a vida toda... Assim era a casa de meus avós também e junto com meu primo Tuca, que morava ali pertinho, vivíamos as nossas aventuras cheias de sabedoria e encantamento. E por falar nele, mal eu cheguei na cozinha ele entrou pela porta a dentro sem cerimônia alguma, meio assustado e com os olhos pequenos ainda pois também havia acordado aquela hora e se pôs na janela comigo a olhar para a vó Maria e o vô Emílio ao longe.

“O vô e a vó parecem são José e Nossa Senhora no presépio que montamos lá na sala, né?”, comentei com o Tuca contemplando aquele cenário bíblico, inundada já pelo espírito natalino. “Vamos lá para tomar a espuma do leite fresquinha e pedir a bênção e dar um abraço neles?”
E assim, saltando rapidinho da janela, saímos em disparada para a estrebaria. Chegando lá corremos ao encontro do vô e da vó e nos sentamos no lugar de costume, onde ficávamos quando ajudávamos a fazer os tratos para as vacas. Era um lugarzinho como que uma prateleira grande, de chão batido embaixo de um paiol enorme. Ali ficávamos todas as manhãs e fins de tarde enquanto esperávamos eles tirarem o leite. Mas aquele era um dia especial, era véspera de Natal e até aquela rotina diária se tornara diferente. De repente, olhando tudo ao nosso redor percebemos que aquela estrebaria virara uma gruta, igualzinha a que fizemos no presépio. Então, meu primo e eu tivemos uma idéia: “Vamos fazer uma caminha para o menino Jesus aqui? Só falta ele agora!” Bem ligeiro pegamos capins secos e verdes que haviam por ali e graciosamente fizemos um aconchegante lugar para dormir. Nossos avós observavam tudo, tão entusiasmados quanto nós, felizes por nossa presença ali junto deles.

Andando de um lado para outro começamos a procurar algo que pudesse representar o menino Jesus. E procura daqui, procura dali e nada! Passou um tempinho e nos cansamos daquele sobe e desce da estrebaria para o paiol e resolvemos descansar na caminha do menino Jesus. Aí, vovô e vovó, nos contemplando curiosos e fascinados, aproximaram-se de nós e disseram: “Pronto! Agora o presépio está feito! Vocês dois aqui são o menino Jesus que faltava”. “ Nós dois?”, perguntei eu prontamente, “por que?”. “Por que em nossas vidas vocês fazem o Natal acontecer todos os dias e é no aconchego do abraço de vocês, no sorriso espontâneo e na conversa amorosa que nós sentimos a revelação desse mistério”. Eu e o Tuca nos olhamos surpresos imaginando o menino Jesus dentro de cada um de nós, felizes com aquela idéia. E assim, abraçando nossos avós, descobrimos que o melhor lugar para preparar e acolher o menino Jesus é dentro do nosso coração.

E sabem do que mais, aquela estrebaria nos ensinou, durante toda a nossa infância, a entendermos o santo mistério que envolve o nascimento de Jesus, o Filho de Deus. E não só o deixamos nascer dentro de nós como também o acolhemos para crescer conosco, brincando juntos. E Ele aceitou!


Um abraço a todos que passarem por aqui!

2 comentários:

Ahab disse...

Oiiiiiiiiii... Tá vendo. Eu não te abandono não. rsrs...

Então... Tu falas de tua infância e de fato parece um cenário de Monteiro Lobato mesmo. Toda aquela magia da infância e tal. rsrs...

Direto do Rio.
Beijão linda.

Unknown disse...

Felicidade sempre DRICA!
Manda-me noticias!
Beijão
Que 2010 seja cheio de saúde, paz, prosperidade!